Pari meu filho naturalmente. Sem
cortes, sem soro, sem analgesia, sem ordens e sem pontos. Sim, eu pari como
nossas ancestrais e sobrevivi. Sobrevivemos, eu e meu filho, e muito bem. Ele nasceu
forte e ativo. Não foi aspirado, furado, medicado ou medido. Respirou, olhou,
sentiu, viveu. Simples assim.
Após seu nascimento veio para meu
peito. Não se interessou em mamar no primeiro dia, mas não houve desespero ou
metas, ficou aconchegado a mim como qualquer mamífero faria ao nascer. Quando
quis ele começou a mamar, e não parou mais.
Ninguém o levou pra longe,
ninguém achou que ele não sabia mamar, ninguém deu leite artificial pra ele,
ele foi pesado aos três dias e aos três meses. Hoje está com quatro meses e meio,
forte, ativo, tranquilo e feliz e se alimenta apenas do meu leite. Sem
complementos, sem chá, sem suco e sem água. Ele nunca viu mamadeira ou chupeta.
E sobreviveu.
Se estivéssemos longe da
civilização nós teríamos sobrevivido ao nosso parto perfeitamente e ele estaria
se alimentando exclusivamente do meu leite, como faz hoje. Sobreviveríamos, olha
só, sem médicos ou indústria! Somente com o que a natureza nos deu. É bonito,
barato e funciona perfeitamente.
Mas sei, com pesar, que não
teríamos sobrevivido se me tivessem feito acreditar que meu leite é fraco, que
meu peito é pequeno, que meu bebê dorme demais ou de menos, que chora demais ou
de menos. Se me levassem ao medo por ele não ter mamado nos primeiros dias e me
orientassem a complementar com leite artificial, ou a procurar mil
profissionais antes de confiar no meu corpo.
Talvez não sobrevivêssemos se tivéssemos
pesado o bebê a cada 15 dias, obcecados por uma curva de crescimento que
pretende dizer mais que a própria criança.
Talvez não tivéssemos sobrevivido
se estivéssemos no lugar de outras mães e bebês, inundados de palpites bem
intencionados, de histórias trágicas ou de orientações técnicas demais. É bem
provável que tudo isso minasse nossa confiança, nossa relação, abalando nossa
conexão tão íntima.
Da mesma forma, eu provavelmente
eu não teria sobrevivido ao parto se tivesse sucumbido ao sistema de saúde
tradicional, se tivesse me deixado convencer que eu era muito velha, muito
sedentária, muito fraca para parir. Se me fizessem acreditar que eu precisava
ser cortada e medicada, que eu não saberia fazer, que eu não suportaria a dor, que
meu filho sofreria e tantas outras coisas.
Sobreviver hoje, na selva da
civilização, ganha outro significado. Hoje é preciso sobreviver não à natureza,
mas à medicalização, à indústria, ao marketing, ao negativismo, às verdades
institucionalizadas.
É preciso se munir de força, boa
informação, instinto e ouvidos moucos.
Quatro meses e meio. Seguimos
vivos, inteiros e com nossas crenças reforçadas.
Que venham as próximas fases.
que lindo Paula. Obrigada por dividir!
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