Sem querer deletei todo o antigo blog. O Quadrante Delta ficou ainda mais perdido no espaço... Através deste novo veículo retorno àquelas paragens. Refaço o caminho, reconheço o trajeto e, embora não possa recuperar o que já está perdido, o quadrante ainda reserva mundos inexplorados. Boa viagem!

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Amor líquido



Estamos com nosso bebê em casa há cinco dias e meio. Tenho chorado à toa. A lembrança de seu nascimento é muito forte e muito presente. Olho pro canto da cama onde fiquei ajoelhada e lembro das dores que senti lá, vou tomar banho e me lembro do chão onde fiquei, do canto da parede onde apoiei minha cabeça nas contrações mais fortes, da fresta para respirar nos intervalos, da toalha que serviu de conforto pra mim e para a médica, querida,  que topou sentar-se no chão para me examinar, porque essa era a melhor posição pra mim.

Olho para a toalha na mesa da cozinha e me lembro do nosso café da manhã tão alegre pouco depois do nascimento dele.  Olho para a banheira inflável fechada e me lembro de quando ouvi que não daria tempo de usá-la. Durante a noite minha bacia ainda estala e minha virilha ainda dói um pouco, lembranças do final da gestação. Quando espirro ainda sinto meu corpo se abrir e até poucos dias o assoalho pélvico estava sensível.

Aos poucos os sinais físicos vão indo embora. Os sinais do ambiente também. Anteontem arrumamos a casa, guardando resquícios da gestação e do parto como creme anti-estrias, epi-no, protetores de colchão e peneira e transformando o ambiente que era uma casa de gestante em uma casa com um bebê. Vieram os cueiros, a pomada para amamentação, as fraldas.

Sinto na casa uma aura de amor e serenidade que envolve todo ambiente. Olhar por horas para nosso bebê; Ver, rever e reviver o momento do seu nascimento; Perceber o quanto é instintivo o ato de ninar, proteger, chamar de filho (nunca pensei que essas habilidades viriam tão instantaneamente)... É como se o amor fosse líquido e corresse pelo meu corpo continuamente. É algo mais do que apenas mental, é uma sensação física mesmo, de sentir essa coisa correndo aqui dentro, e às vezes corre tanto, tão forte que até arde, até dói.

Até ontem isso ainda estava muito forte. Hoje a ida ao cartório quebrou um pouco o clima, mas de qualquer jeito eu sabia que um dia teria que começar a voltar ao mundo. Percebendo essa transição eu me entristeço de verdade, mesmo em meio a tanta felicidade, me entristeço ao ver os sinais do parto no corpo indo embora, ao reorganizar os objetos daquele dia na casa, e ao sentir que essa atmosfera também vai se dissipar, que ela não é pra sempre.

O amor líquido ainda está aqui, mas não sei por quanto tempo. Interferências externas o bloqueiam, mas ele ainda volta. Até quando ele voltará? Não sei. Tento afastar o pensamento e aproveitar cada minuto.

Enquanto escrevia este texto o umbiguinho do bebê caiu. E eu caí em prantos. Meu pequenino começa a crescer. O negócio é aproveitar o dia de hoje, hoje. Ele está chamando, vou amamentar.

12 de novembro de 2012