Sem querer deletei todo o antigo blog. O Quadrante Delta ficou ainda mais perdido no espaço... Através deste novo veículo retorno àquelas paragens. Refaço o caminho, reconheço o trajeto e, embora não possa recuperar o que já está perdido, o quadrante ainda reserva mundos inexplorados. Boa viagem!

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

O nome de Deus em vão

Está cada vez mais difícil ler ou ouvir os comentários das pessoas sobre as notícias. A chuva matou um monte de gente: Deus sabe o que faz. O bebê foi retirado vivo dos escombros: Foi Deus que pôs a mão. A menina é transexual: que Deus ilumine sua alma. Alguém deu uma opinião menos tolerante: Que Deus tenha pena do sujeito. E por aí vai...

É um tal de botar Deus em qualquer conversa e em qualquer situação que nunca havia visto antes. E acontece em todos os lugares: no trabalho, no ônibus, na internet...

Que mania que as pessoas têm de atribuir tudo a uma força incontrolável, subjetiva e que foge a vontade delas. Trata-se de um escape. Colocando a culpa em Deus as pessoas não precisam assumir a responsabilidade de nada. Não precisam assumir que, por exemplo, produzem muito lixo, muita fumaça, muito filho.

O mesmo acontece, em certa medida, com o governo. As diferenças principais são:

1)      O governo realmente existe, independente de se acreditar nele ou não.
2)      O governo tem suas funções e, portanto, é responsável por uma série de coisas.

Por isso, diferente de Deus, o governo deve ser cobrado. (Cabe aqui uma confissão de culpa por ser, como a maioria das pessoas, negligente em meu papel de cobrar das autoridades atos e contas públicas.)

Por outro lado, apenas reclamar do governo com o colega ou o marido não resolve nada, a não ser gerar um clima de indignação no ambiente. Não que eu pense que não devamos falar mais nada, nem desabafar sobre os absurdos da política. Não é isso.

Apenas gostaria de chamar a atenção para o exagero, para o ato mecânico de culpar alguém cujos atos estão muito além da nossa escolha.

Por vezes culpar o governo pode ser tão cômodo e inútil quanto evocar a vontade de Deus. E é desta forma que as pessoas se esquivam da responsabilidade sobre suas próprias escolhas.

O que será, no meu modo de vida, que pode ter contribuído para determinado evento? Será que não sou eu que estimulo a produção de sacolas plásticas? Será que não sou eu que alimento a exploração de menores dando mais dinheiro que palavras? Será que não sou eu que ando de carro mais que o necessário? Será que não sou eu?

Enfim... É muito fácil falar de Deus ou do outro. Difícil é questionar a si mesmo.