Já acreditava que ser mulher é
muito melhor do que ser homem. Ser homem me parecia mais fácil,
mais liso, mais fluido e mais raso, embora eu nunca tenha sido pra saber. Mas
ser mulher me soava mais forte, mais intenso, mais profundo, era melhor e era
pior ao mesmo tempo, pois era extremo.
Algumas vezes me perguntava se
era o gênero feminino que carregava toda essa intensidade ou se era eu mesma e
se tudo não passava de uma análise equivocada do “ser mulher”.
Quando começou a popularização do
termo “bipolar” (e sua banalização) cheguei a pensar sobre a bipolaridade e meu
próprio ser. Acho completamente exagerado essa coisa de ficar colando rótulos
médicos nos modos de ser das pessoas, mas de qualquer forma o termo me fez
refletir. Se muitas vezes coisas banais podiam parecer tão maravilhosas, ou tão
terríveis, é porque a vida em si é especialmente intensa, e a intensidade de
viver é a revolução que acontece aqui dentro, não depende do que fazemos
externamente.
Pensei se não trariam as mulheres
em si toda essa “bipolaridade”. Essa intensidade maluca feito montanha russa,
pois (lembro das aulas de biologia) é como uma montanha russa o gráfico mensal mais
banal dos nossos hormônios e é muito fácil, para nós, ir da euforia à extrema
melancolia em poucos minutos.
Bem, mas a gente nasce, a gente
cresce, e um belo dia a gente engravida. Com a gestação e o parto nos
aproximamos da porção mais fêmea do nosso ser. Ser fêmea, neste sentido diz
mais que apenas ser mulher, já que o “ser mulher” carrega um teor cultural
muito forte e, na maioria das culturas, apresenta uma visão machista do
feminino.
Ser fêmea é se deixar ser leoa, ser
cadela, é deixar fluir o instinto de sobrevivência, ouvir o instintivo, o
sexual, defender a cria, entocar-se com ela, desprezar as relações exteriores. No
puerpério, junto com todos os instintos de fêmea e todo o paradoxo social ( e
quem aguenta esse fru-fru todo em volta do bebê?), a fêmea em questão, mergulhada
em hormônios (ou na falta deles), desequilibrada, ausente, feliz e infeliz, se debate
na nunca tão intensa bipolaridade de ser mulher.
Onde um “a” pode acabar com o
dia, um “b” pode levar rapidamente ao êxtase, uma lágrima desespera, uma
respiração tranquiliza e um sorriso salva o mundo.
Se antes já considerava intensos
meus sentimentos diante do mundo, hoje, puérpera, essa intensidade pulsa como
nunca, me leva numa espiral louca sobre a qual não tenho controle, onde por
vezes respiro, por vezes sufoco. Por vezes estou dentro, por vezes estou fora.
Por vezes ardo de amor, subo, voo. Por outras desço triste e mergulho em meus
confins.
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