Em 2022 eu completei 45 anos, uma idade bem simbólica. Desde então, estou com este texto na cabeça.
É como ver uma fita invisível e pensar: "Será que é aqui? Estou inaugurando a segunda metade da minha vida?"
Não que eu queira que a minha vida dure só noventa anos, longe disso, gostaria de chegar mais longe, mas parece que até aí é mais firme o terreno do sonhar. Depois dos noventa, vai saber?
Mas deixemos de lado essa divagação sobre a vida após os noventa. Vim aqui falar dos 45, ou 46, como tenho hoje.
Não sou jovem, mas também não sou velha, ou, como disse uma amiga: para alguns eu sou muito jovem, para outros velha demais.
As rugas e manchas já se instalaram mas ainda não dominam toda a minha pele.
Estou forte, mas já sinto o freio do corpo que é menos flexível, mais dolorido e muito mais amedrontado do que era antes.
Medo de cair ao fazer estripulias? Muito prazer! De onde você veio?
Falando em força, percebi que não dá pra mover o mundo sempre no muque, as vezes uma roldana cai bem. E as vezes nem isso. Mais do que nunca, eu escolho as (poucas) lutas que vou lutar.
Com 45 vemos os adultos que amamos na nossa infância chegarem a velhice. Não mais a velhice dos 60 anos, cheia de energia e tempo livre, essa ficou lá atrás. Vemos nossos amores passarem dos 80, tantas vezes vulneráveis e precisando de ajuda.
Eram tão fortes nas nossas lembranças!
Nos damos conta, então, de que eles tinham a nossa idade outro dia mesmo, e que o tempo passou rápido demais.
O medo de perdê-los se mistura com o medo de perdermos a nós mesmos, na avalanche voraz do tempo.
Passa tão rápido! Uma respirada, um atropelo da vida, e já estamos lá.
Metade. Será que é a metade o lugar onde estou?
E você? Onde você está? Para ti eu sou jovem ou sou velha?
Tudo bem para qualquer resposta. Descobri que todas elas tem lugar dentro de mim.