Estamos com nosso bebê em casa há cinco dias e meio. Tenho chorado à toa. A lembrança de seu nascimento é muito forte e muito presente. Olho pro canto da cama onde fiquei ajoelhada e lembro das dores que senti lá, vou tomar banho e me lembro do chão onde fiquei, do canto da parede onde apoiei minha cabeça nas contrações mais fortes, da fresta para respirar nos intervalos, da toalha que serviu de conforto pra mim e para a médica, querida, que topou sentar-se no chão para me examinar, porque essa era a melhor posição pra mim.
Olho para a toalha na mesa da
cozinha e me lembro do nosso café da manhã tão alegre pouco depois do
nascimento dele. Olho para a banheira
inflável fechada e me lembro de quando ouvi que não daria tempo de usá-la.
Durante a noite minha bacia ainda estala e minha virilha ainda dói um pouco,
lembranças do final da gestação. Quando espirro ainda sinto meu corpo se abrir
e até poucos dias o assoalho pélvico estava sensível.
Aos poucos os sinais físicos vão
indo embora. Os sinais do ambiente também. Anteontem arrumamos a casa, guardando
resquícios da gestação e do parto como creme anti-estrias, epi-no, protetores
de colchão e peneira e transformando o ambiente que era uma casa de gestante em
uma casa com um bebê. Vieram os cueiros, a pomada para amamentação, as fraldas.
Sinto na casa uma aura de amor e
serenidade que envolve todo ambiente. Olhar por horas para nosso bebê; Ver,
rever e reviver o momento do seu nascimento; Perceber o quanto é instintivo o
ato de ninar, proteger, chamar de filho (nunca pensei que essas habilidades viriam
tão instantaneamente)... É como se o amor fosse líquido e corresse pelo meu
corpo continuamente. É algo mais do que apenas mental, é uma sensação física
mesmo, de sentir essa coisa correndo aqui dentro, e às vezes corre tanto, tão forte
que até arde, até dói.
Até ontem isso ainda estava muito
forte. Hoje a ida ao cartório quebrou um pouco o clima, mas de qualquer jeito
eu sabia que um dia teria que começar a voltar ao mundo. Percebendo essa
transição eu me entristeço de verdade, mesmo em meio a tanta felicidade, me
entristeço ao ver os sinais do parto no corpo indo embora, ao reorganizar os
objetos daquele dia na casa, e ao sentir que essa atmosfera também vai se
dissipar, que ela não é pra sempre.
O amor líquido ainda está aqui,
mas não sei por quanto tempo. Interferências externas o bloqueiam, mas ele
ainda volta. Até quando ele voltará? Não sei. Tento afastar o pensamento e
aproveitar cada minuto.
Enquanto escrevia este texto o
umbiguinho do bebê caiu. E eu caí em prantos. Meu pequenino começa a crescer. O
negócio é aproveitar o dia de hoje, hoje. Ele está chamando, vou amamentar.
12 de novembro de 2012